quinta-feira, 16 de junho de 2016

Princesinha do Mar, não sei se é chegada a véspera de teu dia, como escreveu o mestre Rubem Braga, de quem doravante roubarei palavras sábias sobre ti. Mas sei que esse fim de tarde no Posto Seis, o vento cobrindo as pedras das ruas com folhas amareladas de outono, parece um sintoma do apocalipse que está por vir. Se o mar virá tomar tudo de volta, como seria muito justo, tampouco sei, mas enquanto não vêm os meros que se entocarão em tuas galerias, e nem chega a chuva que se anuncia, vou descansar os cotovelos cansados no balcão engordurado de caldo de mocotó da Sorveteria Solar. Como tuas aparências enganam a Humanidade há décadas e décadas, e antes que me perguntem ou pensem mal de mim, convém avisar que é mais fácil achar um padre confessando os seus pecados na Galeria Alaska do que um mísero sorvete na Sorveteria Solar.
O bom paraibano Geraldo, com sua voz de tenor, vem abrir a cerveja e oferecer ao freguês que não via há mais de ano o jornal O Dia com suas páginas desfraldadas por tantas mãos desde o primeiro café da manhã. Leitor fiel do brioso matutino, Geraldo ajeita o jornal como se esse gesto educado pudesse acrescentar ainda mais elegância àquela que ele trouxe na bagagem quando resolveu deixar a seca para trás e tentar a vida no Rio de Janeiro, para mais de légua no tempo que se passou. “Tem chovido lá na terrinha, Geraldo? ”, pergunto, com medo da resposta. Mas ele desanuvia a tarde com uma de suas tiradas de malandro: “Mais que aqui”.
Geraldo, o jornal e o balcão.

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